Vinhos além do clima

Matéria publicada em nossa coluna sobre vinhos no site Bella da Semana, no mês de Março/2014.

É sabido que o clima influencia direta ou indiretamente em nossa alimentação, determina os tipos de alimentos que podem ser cultivados em uma região, numa época do ano etc.

No caso do vinho, não é diferente. É necessário conseguir a matéria prima, a uva, que tem limitações de cultivo em relação à temperatura, aos solos e outras condições. E é por isso que não encontramos elaboração de vinhos em regiões demasiado quentes ou extremamente frias. O consumo de vinhos também pode ser influenciado pelo clima, e isso acontece muito no Brasil.

Foto: Mario R. Leonardi

É comum escutar ou ler em revistas especializadas, blogs e outros meios de comunicação, recomendações de certos vinhos para determinadas épocas do ano. Por exemplo, uma frase muito comum é: ´inverno, estação do vinho´, em que sugerem vinhos tintos para o consumo.

Aí eu pergunto: e o resto do ano? Essas mesmas pessoas com certeza dirão que podemos beber vinhos mais refrescantes, como brancos, espumantes e rosès, sobretudo durante o verão. Certo, parece bom, mas analisemos um pouco a situação.

O consumo destes vinhos é realmente baixo. A preferência do consumidor brasileiro está nos tintos e, quando se fala em vinhos, pensamos nos tintos. Portanto, muitas pessoas os relacionam com o inverno. E daí surgem mais perguntas: será que isso é um bom marketing para o vinho? Será que não limita o seu consumo?

O consumo do vinho per capita no Brasil é muito baixo. São menos de 2 litros por ano, enquanto em alguns países europeus o consumo atinge até 50 litros da bebida consumida por pessoa por ano. Na América do Sul são quase 30 litros por pessoa, como é o caso da Argentina.

Evidente que se refere a países com tradição na produção e consumo de vinhos. Realmente é necessário que sejam realizados importantes e sérios trabalhos a fim de difundir o vinho para o seu crescimento. Claro que, quando falamos sobre divulgar e aumentar o consumo, devemos fazê-lo de forma responsável. No entanto, para o ano inteiro. Todos que trabalham nesta área têm essa responsabilidade.

Como mencionei no começo da matéria, o clima influencia em nossa alimentação. É verdade que em dias muito quentes podemos preferir comidas mais leves e, desse modo, acompanhar esses pratos com vinhos mais refrescantes, bem como em dias muito frios, comer pratos calóricos e gordurosos, e harmonizá-los com vinhos tintos estruturados.

Poderia mencionar vários exemplos, já que o Brasil tem uma gastronomia muito rica. Além disso, podemos levar em conta as mudanças de alimentação de muitas pessoas, que buscam comer pratos mais leves, menos gordurosos e mais saudáveis no dia a dia. Tudo isso é motivo para que muitos restaurantes mudem o cardápio segundo a estação e realizem algumas alterações nas suas cartas de vinhos.

Embora o gosto pessoal seja muito importante, e que, em minha opinião, deve ser sempre respeitado, a dica é prestar atenção nas harmonizações entre pratos e vinhos. De modo particular, não deixo de comer carnes vermelhas assadas no verão e harmonizá-las com vinho tinto encorpado. Sou um grande fã deste tipo de comida, assim como de saborear um prato com frutos do mar num dia frio e acompanhá-lo com um branco leve ou um refrescante vinho espumante.

Sem dúvida, tudo é uma questão cultural. Aprendi desde criança que preparar a mesa significava colocar os pratos, os talheres, uma cesta de pães, os guardanapos, os copos e o vinho, sem se preocupar com a estação do ano. Isso já fazia parte da alimentação diária.

Torço para que o vinho faça parte da cultura alimentar de todas as pessoas que moram no Brasil, e que não esteja relacionado apenas a momentos especiais, festivos, finais de semana ou jantares em restaurantes. Não importa se faz calor ou frio, o importante é ter sempre um motivo para beber e desfrutar de um bom vinho!

Mario R. Leonardi

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