Matéria publicada em nossa coluna sobre vinhos no portal Papo Sabor em 14/10/23
A Denominação de Origem (DO) Rías Baixas é uma pequena região vinícola localizada no noroeste da Espanha, na região da Galícia. Embora a região possua uma longa tradição vitivinícola, a denominação de origem foi estabelecida em 1988 e destaca-se, entre outros fatores, pelo minifúndio. Com uma extensão de 4.321 hectares, a região conta com mais de 5.000 viticultores e cerca de 180 vinícolas que produzem diversos tipos de vinhos, com ênfase nos vinhos brancos, sendo a uva Albariño a grande protagonista.
A DO Rías Baixas abrange a província de Pontevedra e uma pequena parte da de La Coruña, sendo dividida em cinco subzonas: Val do Salnés, O Rosal, Ribeira do Ulla, Condado do Tea e Soutomaior. Influenciada pelo clima atlântico, destaca-se como uma das regiões mais frias e úmidas da Espanha, com precipitações variando de 1400 a 1600 mm por ano. Essa característica é notável quando comparada a outras regiões vitivinícolas do país, geralmente secas, algumas enfrentando escassez de água, o que pode comprometer o cultivo.
Entre as uvas permitidas na DO Rias Baixas estão as brancas Albariño, Loureira branca ou Marqués, Treixadura, Caiño branco, Torrontés (não é a mesma que a da Argentina) e Godello. Já entre as tintas, Caiño tinto, Espadeiro, Loureira tinta, Sousón, Mencía, Brancellao e Pedral.
A uva Albariño destaca-se também do outro lado da fronteira, na região dos Vinhos Verdes, especialmente na sub-região de Monção e Melgaço, no norte de Portugal, onde é chamada de Alvarinho. Obviamente, as características dos vinhos podem diferir, com menor ou maior significância, dependendo de onde é cultivada e como os vinhos são produzidos.
A Albariño é uma variedade de uva de pele grossa que resiste a doenças fúngicas que são comuns em regiões úmidas como Rias Baixas. Em geral, os vinhos apresentam boa intensidade aromática e gustativa, podendo atingir bastante complexidade e alta qualidade.
Os vinhos podem ter aromas e sabores frutados e florais, como frutas cítricas, maçã verde, pêssego, bergamota, casca de laranja, marmelo, lichia, capim-limão, flores de tília, laranja, acácia e madressilva. A acidez é um dos grandes diferenciais da variedade, contribuindo com um ótimo frescor e potencial de guarda. Dependendo do estilo, variam de corpo leve até estruturados. Vários produtores deixam seus vinhos em contato com as borras (sur lie) para obter mais volume de boca e untuosidade, além de mais riqueza aromática e gustativa, tornando-os mais complexos. Alguns têm passagem por madeira, apesar de a maioria dos Rias Baixas não o fazerem.
Com o envelhecimento, é comum o desenvolvimento de um caráter amendoado, notas de nozes e avelã, casca de laranja, marmelo, mel e caramelo, entre outros. Aromas e sabores minerais são comumente citados em degustações, tanto nos vinhos jovens quanto nos envelhecidos.
Somente os vinhos rotulados como “DO Rias Baixas Albariño” são elaborados com 100% dessa uva. Os demais vinhos, por exemplo os rotulados como “DO Rias Baixas” ou aqueles que fazem referência a alguma das cinco sub-regiões citadas anteriormente, são vinhos de corte, ou seja, podem ser produzidos com Albariño e outras uvas brancas permitidas na Denominação de Origem.
Na DO Rias Baixas, também são produzidos vinhos tintos e espumantes, embora em menor quantidade em comparação aos brancos, e não é muito comum encontrá-los no mercado brasileiro.
Os vinhos DO Rias Baixas Albariño geralmente não são econômicos, mas certamente valem a pena experimentar. Se ainda não experimentou, fica a dica.
Saúde!
Mario R. Leonardi.
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