O que é vinho de garagem?

Frequentemente escutamos falar sobre vinhos de garagem ou vinhos de autor. Entrevistamos o produtor Rogério Gomes que nos explica como são estes vinhos.

Rogério Gomes trabalhou desde a adolescência no comércio, nas lojas da família, mas não quis seguir o ramo dos pais e decidiu prestar vestibular para Ciência da Computação. Desde então, há 20 anos, trabalha como consultor de tecnologia da informação. A paixão pelo vinho surgiu em 2007, quando morava em São Paulo. Movido pelo forte interesse pelo mundo do vinho, em 2008 decidiu fazer seu próprio vinho, em seu apartamento. A experiência deu certo e o que era para ser um hobby virou uma vinícola de garagem. Em 2013, seu vinho Reserva Perpétua Lote II foi eleito o melhor vinho brasileiro de corte pelo Anuário de Vinhos do Brasil.

1 – O que é vinho de garagem e como surgiu? Existem outras denominações para este tipo de vinho?

Vinho de garagem é um vinho de pequena produção e que expressa a intenção do autor, seja o vinho elaborado ou não em uma garagem. O termo surgiu no início da década de 90, quando Jean-Luc Thunevin, um ex DJ, resolveu partir para o negócio do vinho em Saint Emilion. Ele adquiriu uma pequena propriedade de 0,6 hectares e elaborou seus primeiros vinhos em uma antiga garagem. Seus vinhos eram diferentes dos tradicionais vinhos de Bordeaux, ao invés de tânicos e longevos, eram alcoólicos e macios, no conhecido estilo “fruit bomb”. Não demorou muito para o crítico de vinhos Robert Parker pontuar os vinhos do Chateu Valandraud (o nome da vinícola de Thunevin) com notas altíssimas. Nascia o termo e o conceito Vinho de Garagem (Vin de Garage): Pequena produção e estilo próprio.

Seguindo a mesma filosofia de estilo próprio e pequena produção há os Vinhos de Autor. Na linha do “exclusivo” há os Vinhos de Boutique e ainda, na linha do “luxo” existem os caríssimos e famosos Vinhos Cult.

2 – Qual a filosofia dos vinhateiros de garagem e a diferença em relação aos demais vinhos?

Um vinho de garagem segue a filosofia do seu criador, o vinhateiro/autor. Cada autor procura imprimir seu próprio estilo em seus vinhos. Vale ressaltar que nos países em que a elaboração do vinho é regulamentada com Denominações de Origem, os Vinhos de Garagem ou de Autor geralmente não seguem tais regulamentações, pois se seguissem, não seriam diferenciados, já que teriam que ser elaborados com as mesmas regras. Já no Brasil, o que motiva a elaboração de Vinhos de Garagem e de Autor é a paixão do vinhateiro pelo mundo do vinho.

Portanto, podemos dizer que os vinhateiros de garagem compartilham das seguintes premissas: baixo ou nenhum uso de insumos enológicos (Ex.: leveduras selecionadas, conservantes, clarificantes, etc.), pequena produção (até 15.000 garrafas por ano) e respeito ao Terroir e à tipicidade da uva.

Os vinhos de garagem não são elaborados pelos mesmos processos utilizados nas grandes vinícolas, por um simples fator de escala. Na contramão dos vinhos industrializados, os vinhos de garagem, muitas vezes elaborados de forma artesanal, tentam expressar aquilo que não se encontra em um vinho comercial produzido em grande escala.

3 – O que esperar de um vinho de garagem?

Os vinhos de garagem Brasileiros não possuem muitas características em comum, pois cada vinhateiro/autor imprime seu estilo próprio. Elaboram-se vinhos diversificados, de estilos inéditos, às vezes oriundos de processos antigos, e às vezes de técnicas modernas e inovadoras. Neste cenário utiliza-se de tudo um pouco: cortes inusitados, processos de elaboração diferentes do tradicional, desengace manual, fermentação natural com as leveduras indígenas, pouco ou nenhum uso de Dióxido de Enxofre (o conservante do vinho), uso de barricas velhas, reformadas, retostadas, e também novas, fermentação de brancos com as cascas e ainda técnicas de maceração seletiva. Mesmo com tantas diferenças na elaboração, pode-se dizer que no resultado os vinhos de garagem compartilham uma característica: o inusitado.

Na taça vamos encontrar aromas instigantes, muitas vezes aromas que só existem nestes tipos de vinhos, que são característicos do processo de vinificação adotado pelo vinhateiro autor. Podemos encontrar aromas que variam desde os primários da uva até os terciários resultantes da atividade microbiológica e do tempo em garrafa. Alguns vinhos podem ter aromas mais intensos que o habitual devido à maior presença de aromas voláteis. Sabemos que o conservante se combina com várias substâncias aromáticas e o baixo uso de conservante permite elaborar vinhos com maior tipicidade e originalidade, que é uma abordagem “natural” seguida por alguns vinhateiros. Por outro lado o conservante também permite neutralizar aromas indesejáveis e intensificar os aromas nobres do vinho, além de dar estabilidade e aumentar a capacidade de envelhecimento. De uma forma ou de outra, os vinhos de garagem são, de fato, diferentes. A dica é perguntar ao autor do vinho o que esperar do líquido na garrafa, para evitar surpresas a alinhar as expectativas.

Um vinho de garagem ou de autor é como um livro que merece ser aberto e lido por todo enófilo que deseja ampliar seus conhecimentos no mundo do vinho.

4 -Existem muitas vinícolas de garagem no Brasil?

Sim, existem algumas, considerando os vinhos de autor e de garagem, podemos citar: Vilmar Bettú, Cave Ouvidor, Tormentas, Era dos Ventos, Domínio Vicari, Arte da Vinha, Quinta da Figueira, entre outros.

5 – Por último, gostaria que você recomendasse três vinhos da Quinta da Figueira e sugerisse as harmonizações.

Quinta da Figueira Ponte Velha Cabernet Sauvignon/Merlot 2010
Confit de canard com batatas rústicas.

Quinta da Figueira Moça Faceira Cabernet Sauvignon 2012
Pizza de Linguiça Blunenau com queijo de cabra.

Quinta da Figueira Purpurata Merlot 2011
Carré de cordeiro com ervas e mousselini de batata baroa

Para maiores informações da Quinta da Figueira:
Site: www.quintadafigueira.com.br
Facebook: Quinta da Figueira