Champagne – Além do brinde

  • 28 de janeiro de 2013
  • Vinhos

Matéria publicada em nossa coluna sobre vinhos no site Bella da Semana, no mês de dezembro/2012.

Sem dúvida na hora de festejar a bebida por excelência para brindar é o Champagne, espumante francês de grande prestígio e referência na elaboração desse tipo de vinho. Por muito tempo temos chamado qualquer vinho espumante de champagne, e muitos ainda o fazem, embora saibam que nem todo vinho que possui borbulhas é Champagne.

A região de Champagne está situada a 150km ao leste de Paris. De clima frio, a temperatura média diária é de 10,5°C, que é como o limite norte da vitivinicultura. Abaixo dessa temperatura, o cultivo da videira é muito difícil. É um clima semi-continental onde as uvas amadurecem lentamente, o que produz aromas finos e bom equilíbrio entre acidez e açúcar. Esses e outros fatores, como por exemplo a composição do solo, os métodos de elaboração e o conhecimento do homem, fazem com que a região seja produtora de vinhos excepcionais.

Tem-se falado muito sobre a invenção do Champagne, ou melhor, do vinho espumante. É realmente difícil pensar em um mentor único, embora em Champagne o mérito tenha sido atribuído a Don Pierre Perignon, monge Beneditino da Abadia de Hautvillers, cerca da cidade de Epernay. No fim do século XVII, deu uma grande contribuição para a enologia da região, como melhorar algumas técnicas de vinificação para vinhos tranquilos.

Passaram aproximadamente dois séculos para que o vinho espumante de champagne fosse reconhecido como produto de alta qualidade. Antigamente, todo vinho que tivesse gás carbônico era considerado defeituoso. Outra informação importante está relacionada à origem desse tipo de vinho, pois existem registros do século XVI, que fazem menção da elaboração de vinhos espumantes em outras regiões.

A denominação de origem
Uma denominação de origem identifica um produto de uma região, localidade ou área determinada. O produto tem características únicas e diferenciadas, as quais se devem ao meio geográfico, o que geralmente denominamos de terroir, que é um conjunto de fatores geográficos, climáticos, geológicos e biológicos entre outros. A tudo isso, devemos somar os fatores humanos, o homem como responsável pelos aspectos agronômicos, conhecimento e elaboração do melhor produto possível. As condições diferenciadas de uma região é a base para constituir uma denominação de origem.

Vinhedos de Champagne

A AOC Champagne (Appellation d”Origine Contrôlée) é composta por uma área de 34 mil hectares, delimitada por lei em 1927. Cinco zonas, Montagne de Reims, Vallée del Marne, Côte des Blancs, Vinhedos de Aube e Côte de Sézanne, com 17 grand cru y 42 premier cru, classificações outorgadas às melhores regiões e vinhedos.

Para que um vinho espumante possa levar o nome de Champagne, tem que cumprir com as normas da denominação de origem. Por exemplo, local e forma de cultivo, utilizar as uvas permitidas, métodos de elaboração, tempo de envelhecimento em garrafa, ter qualidade e características típicas da região, etc. Diferentes comissões controlam o cultivo, a elaboração e a qualidade final dos vinhos.

As principais uvas permitidas para elaborar Champagne são três: Chardonnay (branca) Pinot Noir e Pinot Meunier (tintas). Existem outras uvas brancas que representam somente 0,3% do cultivo total da região, e raramente se falam delas. Essas uvas são Arbanne, Petit Meslier, Pinot Blanc y Pinot Gris.

Uvas Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Meunier

O método de elaboração é o denominado Champenoise, que consta basicamente de dois passos. Primeiro se produz um vinho tranquilo, ou seja, sem borbulhas, chamado de ´vinho base´ e depois se realiza uma segunda fermentação ou ´tomada de espuma´ que vai transformar o vinho tranquilo em espumante. Esse método também é utilizado em diferentes partes do mundo, onde é chamado de método tradicional ou clássico.

A receita do êxito
Sem dúvida, muitos produtores de vinhos de diferentes partes do mundo, querem ter um produto como Champagne. Por isso é que encontramos muitos vinhos espumantes elaborados com o método champenoise e com uvas Chardonnay e Pinot Noir, muitos deles de alta qualidade, porém nunca igual.

O clima, a composição do solo e demais particularidades do entorno geográfico, fazem que as uvas tenham características únicas, e é aí que nasce a qualidade e tipicidade de todo vinho. A uva Chardonnay outorga fineza e elegância, com aromas de frutos cítricos e flores brancas. A Pinot Noir outorga estrutura e delicados aromas de frutos vermelhos. A Pinot Meunier contribui com a frescura e suavidade. Um corte sábio dessas uvas, mais um esmerado processo de elaboração, é a chave para obter excelentes vinhos espumantes de Champagne.

Para todos os momentos e gostos
Os espumantes de champagne possuem um estilo bem definido, como falei anteriormente, mas podemos encontrar produtos com diferentes características. Existem diferentes classificações para este tipo de vinho, por exemplo, segundo a quantidade de açúcar que possui o espumante, que é acrescentado ao final do processo de elaboração, formando parte do que se chama de ´licor de expedição´, que pode ser composto do mesmo espumante ou algum tipo de brandy, mais certa quantidade de açúcar, que vai dar origem a produtos de maior ou menor doçura, conforme quadro abaixo.

Esta classificação é válida para os vinhos espumantes de Champagne e dos países da União Europeia. Em outros países produtores de vinhos espumantes, também são utilizadas várias dessas denominações, mas pode ter diferença na quantidade de açúcar por litro.

Outras classificações que podemos encontrar escrita no rótulo de um Champagne são:
Blanc de Blancs: branco elaborado a partir de uvas brancas.
Blanc de Noir: branco elaborado a partir de uvas tintas.
Rosé: elaborado a partir de uvas brancas e tintas, ou somente de tintas.
Millesimé: elaborado somente em grandes safras. Aparece o ano da colheita no rótulo.
NV (Non vintage): elaborado com vinhos de diferentes safras.
Cuvées de prestige: grandes marcas de Champagne.

Desfrutar do Champagne
Uma das frases mais famosas sobre Champagne é a de Napoleón, que dizia ´merecido na vitória e necessário na derrota´. Sem dúvida, é uma bebida que pode ser apreciada em qualquer momento, não só como bebida festiva, mas também para acompanhar toda uma refeição. Os diferentes tipos de Champagne fazem com que possamos escolher um para cada momento e prato, já que é uma bebida muito versátil na hora da harmonização. Pode acompanhar desde uma simples entrada, até pratos de alta gastronomia e sobremesas.

Por último, o que sempre recomendo para degustar e tomar um vinho e poder desfrutá-lo mais é servi-lo em uma taça adequada e com a temperatura correta. Neste caso de 6 a 8°C e para aqueles grandes Champagnes, de excelentes safras, que pela sua estrutura e complexidade pode ser de 9 a 10°C. Se resfriarmos muito, vamos perder aromas e sabores. Meia hora em um balde com gelo e água é suficiente, ou algumas horas na geladeira. Temos que evitar utilizar o freezer, já que pode acabar com os delicados aromas e sabores da bebida.

Mario R. Leonardi

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