Os aromas da Torrontés, a uva branca emblemática da Argentina

Matéria publicada em nossa coluna sobre vinhos no portal Papo Sabor em 16/09/22.

A cepa Torrontés Riojano se originou na Argentina mediante um cruzamento natural entre as variedades Moscatel de Alexandria e Criolla Chica (Listán Prieto). É a uva branca fina mais cultivada no país e historicamente tem-se destacado na região norte, notadamente em Cafayate, Salta, porém atualmente é cultivada na maioria das regiões vitivinícolas com êxito.

Umas das principais características dessa uva e seus vinhos, é a intensidade aromática. Dependendo da região de cultivo e como são produzidos os vinhos, podem apresentar aromas florais como flor de laranjeira, jasmim, gerânios e rosas, com notas de ervas e especiarias, entre outras. Entrando num terreno mais técnico, mas sem ânimo de complicar, sabemos que vários desses aromas provém de compostos denominados terpenos como linalol (coentro, flor de laranjeira, rosas), nerol (rosa, magnólia), geraniol (rosa e outras flores), citronelol (citronela) e ho-trienol (tília) entre outros.

Na boca, na maioria dos casos, são leves e frescos, com sabores frutados, de ervas frescas e de especiarias. Em geral, não têm passagem por madeira e são destinados para consumo ainda jovens. Mas, nos últimos anos, alguns vinhos começaram a ser elaborados de diferentes maneiras, dando origem a diversos estilos, desde leves, frescos e sem madeira, à estruturados, complexos, com tempo sobre as lias e com amadurecimento em barricas, algo que não acontecia no passado.

Degustação do Laborum de Parcela Finca El Retiro Torrontés 2020

Compartilho aqui a degustação de um Torrontés produzido pela vinícola El Porvenir do qual gostei muito. As uvas deste vinho provém de vinhas velhas cultivadas na Finca El Retiro, localizada em Cafayate, Salta. Os vinhedos estão a 1650 metros de altitude, com sistema de condução latada e solos predominantemente arenosos. As uvas foram fermentadas em ovos de cimento, com um 20% de cachos inteiros, e após a fermentação, o vinho permaneceu em contato com as lias por 8 meses.

O vinho, elaborado pelo enólogo Francisco Puga, apresenta uma cor amarela clara com reflexos esverdeados, límpido e brilhante. Possui uma ótima expressão aromática, que se destaca tanto pela complexidade como pelo frescor. Tem um mix de aromas de frutas, principalmente cítricas, com flores brancas e ervas finas. Aromas de lima, ameixa amarela, citronela, gengibre, flor de laranjeira, jasmim, tília e diversas notas de ervas finas e leves especiarias.

Na boca é um vinho de boa estrutura com certa untuosidade e complexo. Muito equilibrado e fresco, de boa acidez e com álcool de 12,8%. Bastante frutado, sobretudo cítrico com notas de gengibre e leves especiarias, ervas e um toque mineral. Tudo contribui com o frescor do vinho. Também se percebe uma sutil e agradável nota amarga, que é característico da variedade, e o final é longo. Um ótimo Torrontés!

Dicas de serviço e harmonização

Recomendo beber este vinho em torno de 10 °C. Sobre a harmonização com comida, como se trata de um vinho aromático, busco comida que também tenha uma certa intensidade de sabor e aromas. Gosto muito de harmonizar com diversos pratos da culinária tailandesa, mas sugiro evitar aqueles muito apimentados (picantes) que são mais difíceis de harmonizar. Também se pode encontrar boas combinações em pratos da culinária indiana, chinesa e vietnamita. Se pensar em harmonização regional, seria com comida do noroeste argentino, especialmente com alguns tipos de empanadas (humita e outras) e o típico locro.

O vinho é Importado e distribuído pela empresa Sibaris Comercio de Alimentos Ltda.

Mario Leonardi.

Siga-nos no Instagram
@mario_leonardi_somm
@missao_sommelier

Contatos:
mario@missaosommelier.com.br

Tags

Deixe seu comentário