“O vinho no Brasil poderia custar quase a metade”

Missão Sommelier estreia sua coluna entrevistando Julio Cesar Schmitt Neto da Porto Mediterrâneo, especializada na importação e distribuição de bebidas e alimentos finos.

O Sr. Julio teve como primeira área profissional e de formação o Comércio Internacional, é Graduado em Comércio Exterior, Especialista em Relações Internacionais e Mestre em Administração de Empresas, com foco em Internacionalização. Professor do Curso de Comércio Exterior da Universidade do Vale do Itajaí, nas disciplinas de Sistemática de Importação e Sistemática de Exportação, e também da Pós Graduação da FAE Business School, onde leciona a disciplina de Custos e Tributação no Comércio Exterior no MBA de Gestão de Negócios Internacionais. Iniciou sua vida profissional como Despachante Aduaneiro, atividade que desempenhou por 10 anos. Parou com o despacho aduaneiro para constituir uma empresa comercial exportadora e importadora, há 8 anos, da qual é sócio até hoje. 6 anos atrás, por uma paixão pessoal pelo mundo do vinho, constituiu uma nova empresa para se dedicar exclusivamente à importação e distribuição de vinhos finos, juntamente com seus sócios.

Julio Cesar Schmitt Neto – Porto Mediterrâneo

1 – A Porto Mediterrâneo atualmente conta com um expressivo portfólio de vinhos de sete países. Segundo sua experiência comercial, como você define o consumidor brasileiro e quais suas preferências?

Primeiramente, entendo que o Brasil é muito grande para que se possa generalizar. O consumidor de vinhos do Rio de Janeiro está em fase diferente do consumidor de vinhos de Pernambuco ou do Paraná. Se existe algo que me parece que se possa generalizar é que o consumidor, normalmente, se inicia por vinhos do novo mundo, especialmente chilenos e argentinos, e acaba, com o tempo, compreendendo e admirando os vinhos europeus. Outra constatação minha, que penso possa ser generalizada para o consumidor brasileiro como um todo, é a pouca importância e consumo dos vinhos rosés e, especialmente, dos brancos. O consumidor brasileiro tem preconceito com o vinho branco. Muitos consumidores pagam rotineiramente R$ 200,00 ou R$ 300,00 por uma garrafa de tinto e, quando pegam um branco de R$ 150,00, dizem que é caro “para um branco”. Penso que o clima do Brasil e a nossa gastronomia são muito apropriados para brancos. Estes vinhos são muito mais fáceis de harmonizar do que os tintos, e digo mais, um bom branco pode proporcionar tanto ou mais prazer que um bom tinto.

2 – Fala-se muito do crescimento do consumo de vinho no Brasil. Você acredita que nos próximos anos tenhamos um aumento significativo como proferem alguns profissionais da área?

Acredito fortemente. Penso que no Brasil existe um descompasso no que se refere ao serviço do vinho em comparação com o consumo. O serviço é muito bom e o consumo é muito baixo. Quando digo serviço, compreendo restaurantes, lojas, profissionais, imprensa, etc. Falta o consumo acompanhar, pois 2 litros per capta ao ano é ridículo, se compararmos com a cachaça que, apesar dos seus 40% de álcool, está próximo a 15 litros por ano. Tenho convicção também que o aumento do consumo só não é mais veloz em razão do preço do vinho no Brasil, que é muito alto. A carga tributária e o custo Brasil encarecem demais os produtos. Para se ter uma ideia, com a nova Lei de Transparência Fiscal, publicada este ano no Brasil, as empresas precisam informar, em cada nota fiscal de venda, o percentual relativo aos tributos. No caso do vinho importado, este percentual é 63,80%. Ou seja, um consumidor compra um vinho de R$ 100,00, mas pagou, pelo vinho R$ 36,20. Esses R$ 36,20 tem que remunerar toda a cadeia e as despesas comerciais (produtor do vinho, importador, lojista, vendedores, frete internacional, frete interno, etc). O vinho no Brasil poderia custar quase a metade e, aí sim, seria mais fácil impulsionar o consumo. Contudo, mesmo do jeito que está, o consumo vai aumentar.

3 – Você também comercializa vinhos nacionais, como os da vinícola Viapiana da Serra Gaúcha e a Quinta Santa Maria da Serra Catarinense. É sabido que a qualidade dos vinhos brasileiros tem crescido significativamente, mas, o que falta para que os brasileiros consumam mais vinhos nacionais?

Primeiramente, quero declarar que sou fã dos vinhos brasileiros. É impressionante o salto de qualidade que a vitivinicultura brasileira deu nos últimos 15 anos. Quanto à pergunta, penso que faltam principalmente duas coisas: Os vinhos nacionais estarem mais disponíveis ao consumidor (são muito poucas as opções em cartas de vinhos e lojas especializadas). Ninguém compra o que não está à venda, concorda? E outro ponto é um trabalho a ser feito para combater o preconceito e mostrar a atual realidade do vinho brasileiro ao consumidor: O vinho brasileiro é bom e não é caro.

4 – Quais regiões vitivinícolas do mundo você gosta e ainda não tem os vinhos em seu portfólio?

Algumas regiões da França, como o Rhône, algumas da Itália, como o Piemonte, os Estados Unidos e a Austrália.

5 – Quais são os objetivos da Porto Mediterrâneo para os próximos anos?

Não queremos ser a maior importadora, tão pouco temos a pretensão, dentre tantas importadoras, de ser a melhor. O que objetivamos é seguir com nossa filosofia de respeito ao vinho, respeito às pessoas e, no que se refere aos vinhos, seguir descobrindo produtos excelentes, com bons preços, para poder continuar oferecendo ao consumidor brasileiro belos momentos de prazer.

www.portomediterraneo.com.br

Tags

Deixe seu comentário