Em defesa da taça flûte

Ultimamente tem-se falado muito sobre este tipo de taça para vinhos espumantes. Alguns profissionais e outros apaixonados pela bebida até sugerem não utilizá-la mais, já que não é apropriada para apreciar os aromas da bebida. Mas será que é tão assim?

Sabemos muito bem que o tamanho e forma das taças influenciam na apreciação aromática e até gustativa de um vinho, por isso é que são fabricadas taças exclusivas para ressaltar as características de cada vinho, como já tenho escrito em outras matérias.

Devemos levar em conta que existem muitos tipos de espumantes, com características aromáticas distintas, seja pelos métodos de elaboração, as uvas utilizadas, origem ou outro motivo. Portanto, podemos ter diferentes formas de taças adequadas para distintos tipos de produtos.

Ano passado (2018) fiz testes utilizando diferentes tipos de taças de vários fabricantes com diversos tipos de vinhos espumantes. Todavia não publiquei o resultado dessas degustações, mas, posso adiantar que tem taças que são muito funcionais, bem como ao contrário, onde não se percebem quase aromas e direcionam o vinho a certos lugares da boca que não permitem apreciar corretamente as características da bebida. Algumas priorizam o design, são lindas, mas nada funcionais. É claro que estou falando de taças para avaliar um produto, o que pode ser bem diferente de simplesmente beber por prazer.

A maioria dos espumantes jovens, geralmente aqueles mais simples, tem predominância de aromas frutados, muitas vezes cítricos e notas florais. Esses aromas provem principalmente de ésteres, terpenos e outros compostos que são muito voláteis e de fácil percepção. Para esse tipo de espumantes, que incluo os moscatéis, a taça flûte (na imagem à esquerda) é adequada e as vezes melhor que taças maiores e de bojo mais largo, em que a percepção desses aromas pode diminuir consideravelmente.

Já aqueles espumantes, em especial os elaborados com o método champenoise e com bastante tempo de envelhecimento (autólise e sur lie), como é o caso de grandes champagnes, desenvolvem um perfil aromático totalmente diferente e mais complexo, podendo surgir notas de frutas secas, amêndoas, nozes, figos, mel, pão tostado, cogumelos, especiarias, café, cacau e outros. A maioria desses aromas são menos voláteis, vários deles sutis, então, é importante para melhor apreciação servir o espumante em uma taça maior (na imagem à direita), com o bojo mais largo, para que favoreça a avaliação.

Confesso que faz tempo que não uso taça flûte como a da imagem, utilizo outras com formato diferente que gosto mais, porem baseado nos testes realizados e nas características e volatilização dos aromas dos diferentes espumantes, posso dizer que a taça flûte, mesmo sendo estreita e que não favorece alguns tipos de aromas mais complexos, ainda é funcional, e em alguns casos é melhor para degustar e apreciar vários tipos de espumantes.

Este tema e outros sobre taças serão aprofundados e incluídos na 2ª edição (versão ampliada e atualizada) do livro “Vinhos: arte e ciência da degustação” no qual já estou trabalhando.

Mario R. Leonardi

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  1. Responder

    Showww meu amigo! Concordo contigo. Gosto muito das flutes e sigo usando, pois gosto de ficar olhando para a evolução do perlage e pela elegância natural do formato.
    Tenho flutes com bojos mais largos também, sendo essas as usadas para os espumantes mais complexos. Mas mesmo assim, flutes! Lindas, altas e elegantes!!!
    Parabéns!