Argentina, muito mais que Malbec

Matéria publicada em nossa coluna sobre vinhos no site Bella da Semana, no mês de Março/2013.

A Argentina é o maior produtor de vinhos da América do Sul e o quinto a nível mundial, com mais de 210 mil hectares de vinhedos cultivados, grande diversidade de solos, climas e paisagens. Possui diferentes tipos de terroir e uma ampla diversidade de uvas cultivadas. A cada dia surgem novos projetos e regiões, com investimentos locais e do exterior. Atualmente, na maioria das províncias, existem cultivo e elaboração de vinhos.

A cepa Malbec dá origem a seu vinho mais emblemático, e isso é sabido por pessoas que apreciam vinhos em qualquer parte do mundo. Mas a Argentina é muito mais que Malbec. Nesta matéria refiro-me a duas cepas que não são tão conhecidas fora do país, e que merecem ser destacadas, como a uva branca Torrontés, e a tinta Bonarda.

Imagem: Wines of Argentina

Torrontés
Podemos dizer que essa variedade é exclusiva desse país. Embora existam vinhedos de torrontés em outros países, as características diferem muito. Na Argentina existem três tipos de Torrontés: o riojano, o sanjuanino e o mendocino – sendo o riojano o mais cultivado e o que produz vinhos de maior qualidade.

A origem desta cepa era desconhecida até que alguns trabalhos realizados para esse fim a indicaram como um cruzamento entre duas variedades: Moscatel de Alexandria, e outra chamada Criolla Chica. É cultivada na maioria das regiões vitivinícolas da Argentina, são quase oito mil hectares de vinhedos, mas é no norte do país que tem o seu maior destaque, sobretudo em regiões da Província de Salta, como Cafayate e também no Vale de Famatina, na Provincia de La Rioja.

A uva Torrontés produz um vinho que encanta degustadores de todo o mundo pelas suas características únicas, o que o torna atraente. É um dos brancos mais aromáticos, muito perfumados, com aromas florais como flor de laranjeira, jasmim, gerânios, rosas e notas de ervas e especiarias. Na boca é intenso, aparecendo sabores frutados e de especiarias, e com uma acidez muito refrescante. Em geral, é um vinho que deve ser consumido jovem.

Em questão de harmonização, o vinho acompanha bem pratos típicos do norte da argentina, como as empanadas salteñas ou locro. Também é um bom parceiro de frutos do mar e uma boa opção para acompanhar comidas picantes, muito temperadas, como por exemplo alguns pratos das cozinhas hindu, chinesa, vietnamita ou thai.

Esta cepa também é utilizada na elaboração de vinhos espumantes e de vinhos doces de colheita tardia, que valem a pena experimentar e desfrutar.

Uvas Bonarda e Torrontés

Bonarda
A uva bonarda é a segunda uva tinta fina mais cultivada na Argentina. Sua origem tem sido muito discutida e até confusa, já que existem diferentes nomes que são relacionados com esta variedade, como algumas cepas italianas. Investigações indicam que esta cepa é originária da região de Savoie, na França, onde possui o nome de Corbeau. Esta cepa foi levada para a Argentina pelos imigrantes italianos, há muitíssimo tempo, junto com outras variedades.

Historicamente esta uva foi utilizada para elaborar vinhos de consumo massivo, simples e com preço baixo. É uma cepa que tem bons rendimentos, o que fazia com que sua produção fosse mais econômica. Muitas vezes utilizada em cortes, principalmente com Malbec, para vinhos do dia-a-dia.

Nos últimos anos vêm ocorrendo mudanças significativas em relação à produção da Bonarda. Trabalhos realizados no cultivo para a obtenção de uvas de maior qualidade, vinificações diferenciadas, utilização de barricas e outros, fizeram com que hoje existam vinhos de altíssima qualidade.

Quando alguém pergunta sobre esta cepa, digo que é uma das variedades mais cultivadas na Argentina. Supera os 18 mil hectares e, até pouco tempo, era mais cultivada que a Malbec. Isso gera certo espanto, mais ainda quando degustam um bom exemplar desta uva.

Como características gerais, podemos destacar a intensidade da cor, um vinho muito frutado e pouco tânico, macio, o que o torna muito agradável e, quando bem elaborado, pode ser complexo e com bom potencial de guarda.

Argentina não é só malbec. Existem muitas cepas cultivadas nesse país, com as quais são elaborados excelentes vinhos, tanto varietais como de cortes.

Mario R. Leonardi

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